VAMOS FALAR DE AUTOCONSCIÊNCIA?
- Daiana Oliveira
- 4 de jun. de 2020
- 7 min de leitura
Atualizado: 17 de jul. de 2020

Uma palavra que está muito na moda é autoconsciência, autoconhecimento.
É muito comum abrirmos um texto, assistirmos um vídeo
ou lermos uma frase de efeito em que está marcada a palavra autoconsciência.
Mas você sabe o que é ter autoconsciência?
O que é ter pleno conhecimento sobre si?
E você sabe como realmente trabalhar a autoconsciência?
Eu acredito que a percepção desse conceito tem sido tratada por muitos de forma equivocada.
Eu acredito que tem sido feita uma certa confusão sobre o que é autoconsciência.
E também sobre como desenvolver autoconsciência.
No começo do ano eu fui correr em um parque aqui de Curitiba,
e vi uma coisa que eu achei muito legal.
Várias pessoas com camisetas da mesma cor estavam reunidas ali,
para correr ou andar no parque em grupo em busca da autoconsciência.
E durante o meu treino eu cruzei com várias dessas pessoas.
Todas muito sorridentes e orgulhosas de si, porque estavam ali em busca de algo maior.
Estavam ali comprometidas em grupo em busca de evolução interior, de crescimento físico e espiritual.
Eu achei aquilo super inspirador.
Inspirador em conseguir mobilizar todas aquelas pessoas por algo tão nobre.
Inspirador por ver o brilho no olhar de cada um, o orgulho de si próprio.
Achei absolutamente linda a proposta, o projeto e o movimento.
A força do grupo, da egrégora, de uma reunião de pessoas com objetivos comuns
é extremamente poderosa e transformadora.
Tudo o que queremos levar para uma fase mais avançada,
Sempre que queremos transpor certas barreiras e irmos além,
Precisaremos construir um grupo e aumentar o tamanho desse grupo.
Quando fazemos isso, começamos a aumentar o nosso poder interior como indivíduos, como grupo e como coletividade.
Cada um que compõe o grupo se sente mais forte espiritualmente, internamente e psicologicamente.
A consequência disso é que cada grupo fica automaticamente fortalecido também.
E a união de vários grupos fortalecidos compõe uma comunidade,
que se torna a força propulsora daquele movimento.
Estamos falando de três forças que são extremamente potentes quando estão unificadas,
o indivíduo, o grupo e a comunidade.
Mas que também devem ser fortes o suficiente em suas individualidades.
É como acendermos três palitos de fósforo.
Os três possuirão sua chama de fogo própria, independente dos demais.
Mas quando unimos os três palitos de fósforo acesos,
forma-se apenas uma chama, indistinta e inseparável.
Estamos falando da chama, da força, que cada indivíduo possui dentro de si.
Estamos falando da chama, da força, que um grupo de indivíduos pode gerar.
E estamos falando da chama, da força, que toda uma comunidade de indivíduos é capaz de criar.
É a luz dentro de mim.
A luz dentro das pessoas ao meu redor.
A luz dentro de todas as pessoas que compartilham dos mesmos valores que eu.
Quando estamos falando de autoconsciência.
Estamos falando apenas daquele primeiro caso.
Estamos falando apenas da chama que cada indivíduo possui dentro de si.
Estamos falando apenas da força propulsora que existe no interior de cada indivíduo.
Estamos falando apenas daquela luz que brilha dentro de cada um de nós.
O que na cabala é chamado de ponto no coração (dot in the heart).
Quando falamos de autoconsciência, portanto,
estamos falando do desenvolvimento daquela força primária dentro de nós.
Estamos falando em apurar a nossa percepção sobre nós mesmos,
para que então possamos expandir a nossa força interior de maneira consciente, intencionada e direcionada.
Mas ainda, a nossa percepção sobre nós mesmos também está dividia em três níveis.
Ou seja, também existem três níveis de autoconhecimento.
O primeiro nível é sobre "eu e eu mesmo".
É sobre como eu me vejo, como eu me percebo.
É sobre o quanto eu sei sobre mim, sobre as minhas forças e sobre as minhas fraquezas.
É sobre o meu domínio sobre os meus instintos, sobre as minhas emoções e sobre os meus pensamentos.
O segundo nível de nossa percepção sobre nós mesmos
envolve a nossa interação com as pessoas à nossa volta.
É sobre como nos relacionamos com as outras pessoas,
com as circunstâncias da vida.
É sobre como agimos e reagimos aos estímulos externos.
É sobre como eu afeto as pessoas próximas de mim,
como eu afeto aquelas pessoas com quem eu entro em contato
e sobre como essas pessoas que por algum momento, curto ou longo, entram em minha vida, me afetam.
E o terceiro nível de nossa percepção sobre nós mesmos
envolve a nossa interação com tudo o que existe.
É sobre como nós percebemos o mundo e todas as coisas, pessoas e seres que estão nele.
É sobre o quanto eu percebo que eu faço parte da sinfonia.
É sobre o quanto eu percebo o meu papel na orquestra do mundo.
Na cabala esses três níveis podem ser representados da seguinte forma:
O primeiro nível é como se nós fossemos o próprio ponto de luz que existe no coração de cada um.
Nós sentimos que somos aquela força interior.
O segundo nível é como se nós fossemos uma pinça puxando um ponto de uma toalha.
Quando aquela parte da toalha é puxada, tudo se levanta junto em cascata.
É o que a nossa influência pode causar nas pessoas ao nosso redor.
Quando nós nos elevamos, nós acabamos elevando as pessoas ao nosso redor junto conosco.
E o terceiro nível é como se nós fossemos um minúsculo quadrado de um holograma.
Um holograma é uma figura gigante formada por milhares de pequenos quadrados.
Como quando as pessoas na arquibancada de um estádio levantam placas e formam imagens.
O que importa é a imagem formada por todos.
Mas se uma pessoa virar a placa errada, a imagem não estará completamente perfeita.
E esse é o nosso papel no todo.
Agora que já conseguimos separar o que é autoconsciência
do que é consciência, digamos que, social e consciência, do que vou chamar de coletiva.
Podemos nos focar em compreender mais a fundo sobre como desenvolver a autoconsciência.
Como desenvolver aquela percepção primária sobre nós mesmo.
Conhecer a si mesmo é um dos maiores desafios que enfrentamos na vida.
Principalmente nos dias atuais, em que todos os estímulos externos,
em que todas as mensagens e informações que recebemos,
em que todas as coisas e ações que fazemos,
em praticamente tudo somos estimulados a olhar para os outros
a olhar para as coisas e para tudo o que acontece ao nosso redor.
Queremos comprar um carro mais potente, porque vemos na propaganda,
porque vemos ele circulando na rua.
Porque queremos mostrar nosso sucesso para os outros.
Ou até porque queremos mostrar o nosso sucesso para nós mesmos.
A nossa realização com o nosso sucesso está interligada às coisas
que conseguimos comprar.
O que não tem nada de errado.
Muito pelo contrário.
Devemos nos orgulhar das nossas conquistas e nos presentear.
O ponto de análise aqui é percebermos que mesmo para satisfazer os nossos sentimentos individuais
nós estamos cada vez mais dependentes das coisas e dos fatores externos.
A nossa felicidade está cada vez mais atrelada às coisas que conseguimos ter e comprar.
A nossa felicidade está cada vez mais atrelada ao que os outros pensam de nós.
Só que evolução espiritual e evolução material são dois caminhos absolutamente independentes.
Quantas pessoas que atingem o sucesso material e se perdem no álcool, nas drogas,
no sexo, ou até mesmo cometem suicídio.
Isso acontece porque o caminho espiritual e o caminho material não são dois caminhos que seguem juntos,
não são dois caminhos que andam de mãos dadas - hand to hand.
Uma pessoa pode estar percorrendo os dois caminhos ao mesmo tempo,
e isso é o ideal.
Mas é importante perceber que não são o mesmo caminho,
e que são caminhos que não levam obrigatoriamente para o mesmo lugar.
O caminho espiritual começa em conhecer a si mesmo.
Em olhar para si sem a ingerência de nenhum fator externo.
É procurar dentro de si as respostas.
É tentar compreender o que mantém aquela chama interior acesa.
É saber o que alimenta e o que consome a sua força interior.
É saber do que aquela força interna é capaz de fazer.
É conseguir dominar, para depois expandir, aquela luz que brilha dentro de cada um de nós.
Conhecer a si mesmo não é teorizar sobre como determinados fatores afetam a mente humana.
Por mais importante que seja compreender a mente humana como um órgão,
As teorias sobre como a mente humana funciona não é desenvolvimento de autoconsciência.
Porque não é só uma coisa ou outra que leva uma pessoa a ser quem ela é e a fazer o que ela faz.
São diversas cadeias de ações, fatos, emoções, sentimentos, pensamentos, absolutamente aleatórios
que influenciam uma pessoa a ser e a fazer o que ela é e faz.
Conhecer a si mesmo, não é sentar em uma roda e ouvir o que os outros pensam de você.
Por mais importante, por maior que seja o apoio que um grupo pode nos dar,
Isso não é desenvolvimento de autoconsciência.
Isso é trabalho em grupo, é desenvolvimento interpessoal, é apoio, é suporte, é ajuda.
É muito bom, é muito importante, e em algumas fases de nossa vida é exatamente o que precisamos.
Mas não podemos confundir isso com desenvolvimento de autoconsciência.
Conhecer a si mesmo não é procurar apoio em um grupo que lhe dê suporte.
Porque se a sua força não é suficiente para existir sozinha,
você estará drenando a força do grupo.
No longo prazo isso não é bom nem para você, que sem o grupo não conseguirá ficar de pé.
E nem para o grupo, que em vez de se fortalecer com você,
acaba se enfraquecendo para lhe fornecer essa força que você precisa.
Conhecer a si mesmo é ser capaz de correr em uma pista e descobrir por si até onde você consegue ir.
E perceber por si em que momento você começa a sentir cansaço.
É observar o que te ajuda, o que te estimula para fazer um esforço extra.
É entender as suas fraquezas, conseguir avaliar quais são suas limitações reais,
aquelas que não dependem de você ou do seu esforço,
e conseguir avaliar quais são as suas limitações imaginárias,
aquelas que dependem apenas da sua mudança de pensamento, de emoção, de julgamento.
Conhecer a si mesmo deve ser uma viagem solitária interior.
Mas isso não significa nos isolar do mundo.
E é tão equivocado achar que isso é triste, negativo ou depreciativo.
Porque na verdade essa viagem é reveladora, é transformadora, é mágica.
Descobrimos habilidades que não sabíamos que tínhamos.
Paramos de procurar sanar fraquezas que percebemos serem irrelevantes.
Aprendemos o que nos faz bem e o que nos faz mal.
Com isso apuramos a nossa capacidade de decisão.
Conseguimos escolher pelas coisas que nos auxiliam a evoluir.
Conhecer a si mesmo é um trabalho de conhecimento e de construção da nossa força interior.
E isso somente nós podemos fazer por nós mesmos, mais ninguém.
E conforme aumentamos a nossa força interior, a nossa autoconsciência,
Mais fortes nos tornamos para atuar e fortalecer o grupo a nossa volta.
E mais fortes nos tornamos para atuar e fortalecer o mundo em que vivemos.
Passamos a ser fonte de energia, de inspiração, de exemplo para aqueles ao nosso redor.
E passamos a ser fonte de influência e de criação no mundo.
Mas, quem disse que esse é um trabalho simples e fácil?
Conhecer a si mesmo é o maior de todos os desafios que a humanidade sempre enfrentou.
Sócrates já dizia:
"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo".
Benjamim Franklin escreveu:
"Há três coisas extremamente duras, o aço, o diamante e conhecer a si mesmo".
Então não adianta procurar atalhos, ou fórmulas milagrosas,
O caminho do autoconhecimento é tortuoso e diário.
Mas também é o único caminho que nos permite abrir todas as portas do universo.
TEMPO DE MEDITAR | Daiana Oliveira



