Vamos falar sobre o preço das suas escolhas?
- Daiana Oliveira
- 3 de out. de 2020
- 8 min de leitura

Segundo a teoria de Adam Smith, considerado o pai da economia, existe uma força invisível que movimenta toda a sociedade, com a finalidade de manter o equilíbrio constante entre os interesses dos indivíduos e os recursos existentes no mundo.
E ele chamou esse força que coloca toda a economia em movimento de "Mão Invisível", pois essa força age como se fosse uma mão que pega um recurso de um lado e leva até os indivíduos que precisam desse recurso.
E assim, essa força, essa "Mão Invisível", organiza toda a economia de forma eficiente, administrando naturalmente os recursos existentes com os interesses que cada pessoa persegue.
Essa força, essa "Mão Invisível" organiza toda a economia, ela atua como um imã, que atrai tudo o que é preciso e repulsa tudo o que é prejudicial.
E segundo Adam Smith, para entrar no campo de atuação dessa força organizadora invisível, os indivíduos devem ser capazes de tomar as suas próprias decisões por conta própria.
Ou seja, os indivíduos devem ser livres para poderem decidir o que querem e para poderem agir em busca do que querem.
Pois quando os indivíduos podem exercer a sua liberdade de escolha, eles ativam essa força organizadora invisível que administra todo o tecido econômico de forma mais eficiente.
Quando não existem reis, impérios, governos, ou mesmo relações menores que impossibilitem os indivíduos de tomarem as suas próprias decisões, essa força de atração e de repulsão é ativada.
Mas Adam Smith percebeu ainda, em seu estudo de quase 20 anos, que essa força organizadora invisível de atração e repulsão somente age, quando os indivíduos perseguem os seus próprios interesses sem esperar pela ajuda dos outros.
Ou seja, além de os indivíduos precisarem tomar as suas próprias decisões, eles precisam agir por conta própria para obterem tudo o que querem.
Os indivíduos precisam agir, eles precisam ir atrás do que querem sem contar com a benevolência de ninguém.
Porque quando os indivíduos depositam as suas escolhas nas ações de terceiros, quando os indivíduos esperam pela boa vontade das outras pessoas para obterem o que querem, aquela força organizadora invisível não é ativada.
E assim, nada é atraído e nem repelido. Essa força organizadora invisível fica inerte.
Acontece que além de perceber a existência dessa força e de entender como é possível entrar no seu campo de atuação, os economistas também analisaram como que essa força invisível e organizadora opera, como que ela age para movimentar toda a sociedade por meio da economia.
E os economistas perceberam que essa força é regida por alguns princípios.
Ou seja, existem algumas leis naturais que regem os acontecimentos econômicos, que regem a forma como essa força invisível administra os interesses dos indivíduos de um lado e os recursos escassos de outro com a finalidade de alcançar o equilíbrio.
E os economistas dividiram essas leis naturais em 3 grupos de princípios:
Princípios referentes à forma como as pessoas tomam as decisões das suas vidas. Eles analisaram quanto tempo as pessoas decidem trabalhar, o que elas decidem comprar, como elas decidem poupar e onde elas decidem gastar.
Princípios referentes à forma como as pessoas interagem umas com as outras. Eles analisaram como as pessoas negociam entre si, o que motiva as suas negociações, quais são os interesses envolvidos.
Princípios referentes aos fatores e tendências que afetam a economia como um todo.
Ou seja, os três grupos de princípios dessas leis naturais tratam:
Primeiro grupo, dos princípios que explicam o que move as pessoas na busca pela satisfação dos seus interesses;
Segundo grupo, dos princípios que explicam como as pessoas interagem entre si para atingir os seus objetivos, para satisfazerem os seus interesses; e
Terceiro grupo, dos princípios que explicam como os fatores externos podem influenciar nessa dinâmica.
Aqui, nos interessa entender os princípios percebidos pelos economistas que explicam a forma como as pessoas tomam as decisões em suas vidas, que correspondem ao primeiro grupo de princípios.
Porque assim como acontece com a lei da gravidade, quando passamos a entender como essas leis funcionam, nós podemos aproveitar esse conhecimento para sairmos da zona de tentativas e erros. e efetivamente começarmos a construir algo.
Assim como construímos o avião quando compreendemos a lei da gravidade.
Mas se não tivéssemos compreendido a lei da gravidade, continuaríamos interpretando muito eventos naturais como bruxaria, mágica, misticismo.
Dito isso, os economistas perceberam que existem 4 princípios da economia que explicam como e porque as pessoas tomam suas decisões individuais.
O Princípio nº 1, é que as pessoas sempre enfrentam tradeoffs
Tradeoffs correspondem a trocas que precisam ser feitas quando estamos em situações conflitantes, quando estamos em situações em que não há como manter 2 coisas.
Tradeoffs significa que para ficarmos com uma coisa, precisamos nos desfazer de alguma coisa.
E o Princípio nº 1 diz que as pessoas sempre precisam escolher por alguma coisa, em detrimento de outra.
As pessoas escolhem comprar um carro, em vez de guardar o dinheiro.
As pessoas escolhem estudar, em vez de ir para uma festa.
As pessoas escolhem malhar, em vez de assistir um filme.
As pessoas escolhem ser engenheiro, em vez de ser médico.
Tudo na vida, portanto, tem um preço a ser pago. Nada é de graça.
E o preço a ser pago por qualquer coisa que queremos, é abrir mão de outra coisa que também gostamos.
O preço para comprar um carro, é o dinheiro que entregamos.
O preço para estudar, é não ir na festa.
O preço para malhar é deixar de assistir ao filme.
O preço de fazer uma faculdade engenharia é não fazer uma faculdade de medicina.
Todas as escolhas que fazemos na vida possuem um preço. Mas não um preço em dinheiro necessariamente.
O custo de todas as nossas escolhas, são todas as outras coisas das quais abrimos mão.
Esse é o verdadeiro preço que pagamos por todas as nossas escolhas.
E os economistas perceberam que nós enfrentamos o tempo todo tradeoffs.
A todo momento nós precisamos escolher uma coisa em detrimento de outra.
Nós somos colocados a todo instante diante de situações em que precisamos avaliar o que queremos, e do que estamos dispostos a abrir mão para obtermos aquilo que queremos.
A tomada de decisões exige, portanto, escolher um objetivo em detrimento de outro.
Mas isso não se refere apenas àquelas decisões que consideramos grandes.
Esses tradeoffs não se referem apenas à escolha do emprego que queremos abandonar, da cidade em que moramos, do casamento que constituímos, do processo de divórcio que instauramos, dos filhos que planejamos.
Nós enfrentamos tradeoffs a todo momento, seja quando decidimos comprar queijo branco ou cheddar, sobre comer brigadeiro ou não, sobre dormir um pouco mais ou levantar e meditar, sobre sair com os amigos ou ficar em casa assistindo um filme, sobre almoçar em casa ou no restaurante.
Em todas as nossas escolhas nós abrimos mão de alguma coisa para obter outra coisa.
O problema é que nós fazemos tudo no automático, no impulso.
Nós não ponderamos quais são os nossos interesses em jogo e muito menos tomamos consciência do que estamos abrindo mão.
Entramos no fluxo dos acontecimentos e somos levados pela correnteza.
Acontece que esse princípio age independentemente do nosso conhecimento sobre ele ou não.
Ou seja, estejamos ou não conscientes das nossas escolhas diárias, quando pegamos alguma coisa para nós, outra coisa é automaticamente tirada de nós.
Quando pegamos o brigadeiro, automaticamente uma parte da nossa saúde é tirada de nós.
Mas, o maior tradeoff que fazemos normalmente inconscientes é sobre o nosso próprio tempo.
Quando escolhemos gastar uma hora do nosso tempo olhando as redes sociais, deixamos de usar essa uma hora para meditar, para estudar, para trabalhar, para ficar com os nossos filhos, com os nossos familiares e amigos.
Quando escolhemos gastar o nosso tempo conversando sobre a vida dos outros, nós abrimos mão de gastar o nosso tempo pensando melhor no trajeto da nossa própria vida.
Perceba que é um princípio, é uma lei natural, que não há como ser burlada.
As suas escolhas, portanto, definem não só para quais interesses você está direcionando seus esforços, mas também definem do que você está abrindo mão para obtê-los.
Esteja você consciente disso ou não.
Quando percebemos isso, quando percebemos esse princípio e entendemos como ele funciona, as nossas escolhas mudam, porque paramos de tentar cortar caminho.
Quando estamos conscientes de que enfrentamos tradeoffs, que enfrentamos essas trocas obrigatórias, nós conseguimos direcionar os nossos esforços para o que realmente queremos, e também conseguimos enxergar com clareza do que estamos abrindo mão para conseguir isso.
Porque normalmente nós não direcionamos todos os nossos esforços para obtermos o que queremos.
Nós ficamos tentados a não abrir mão de pequenas coisas, porque não entendemos que estamos enfrentando um tradeoff.
E assim não obtemos o que queremos porque não abrimos mão de pequenos prazeres.
Não temos um corpo saudável porque não abrimos de comer aquele brigadeiro.
Por outro lado, existem situações em que estamos diante de alguns tradeoffs, de algumas situações de trocas obrigatórias, em que conscientemente nós não estamos dispostos a abrir mão de tudo, ou de qualquer coisa para obtermos o que queremos.
O que eu quero dizer é que existem algumas coisas ou alguns valores, que são tão importantes para nós, que nós não estamos dispostos a abrir mão deles por nada, nem mesmo para obter algo que é do nosso maior interesse.
Existem coisas ou valores que são tão valiosos para nós, que não é uma opção abrir mão deles.
Como quando recebemos uma proposta de emprego melhor, mas que é em outra cidade, e assim teremos que abrir mão de ficar próximo da nossa família, de filhos, de pais idosos.
Ou mesmo querer muito comer uma comida ultra saborosa, mas não estar disposto de abrir mão de manter uma alimentação saudável.
E quando estamos diante de um tradeoff complexo como esses, em que temos de um lado algo que queremos muito e de outro lado algo que não estamos dispostos a abrir mão por nada, nós precisamos procurar alternativas.
São situações em que precisamos procurar outra saída para obtermos o que queremos, sem precisar abrir mão do que nos é tão valioso.
Precisamos procurar alternativas em que o preço para obtermos o que queremos seja abrir mão de outra coisa, ou de outras coisas menos valiosas para nós.
Só que isso leva um pouco mais de tempo, isso exige um pouco mais de paciência, mas eventualmente encontraremos uma opção melhor para obtermos aquilo que queremos.
Em algum momento o tradeoff, a troca obrigatória será por algo que estaremos dispostos a abrir mão.
Como quando continuamos procurando melhores opções de emprego na nossa cidade mesmo, ou em cidades mais próximas. Em algum momento essa oportunidade vai aparecer.
Ou mesmo quando continuamos procurando por comidas ultra saborosas, mas que não tenham gorduras saturadas, nem açúcares em excesso. Em algum momento nós encontraremos algo que seja maravilhoso para o nosso paladar, sem precisarmos nos entupir de gordura e de açúcar.
Quando entendemos esses tradeoffs, percebemos a importância de cada escolha que fazemos e de cada minuto que temos.
Quando entendemos que em todas as nossas escolhas, pequenas ou grandes, nós abrimos mão de alguma coisa, mesmo que inconsciente, nós começamos a fazer escolhas mais assertivas, mais bem direcionadas.
Pois passamos a avaliar melhor não só o que queremos, mas começamos a avaliar também, tudo aquilo que estamos abrindo mão para obtermos aquilo que queremos.
Isso ficou muito claro pra mim num dia em que eu estava fazendo musculação.
Porque eu não gosto de musculação, só que eu sou muito fraca nos braços e no abdomem.
Então se eu quisesse fortalecer os meus braços e o meu abdomem, eu precisava fazer exercícios.
E um desses exercícios é a prancha.
E eu não tinha paciência para aguentar e fazer esse exercício, então eu sempre enrolava e desistia.
Mas então, eu percebi que, por mais difícil que fosse, era apenas um minuto de prancha por dia para atingir o objetivo que eu queria.
Eu percebi que eu estava trocando apenas um minuto da minha vida no dia para fortalecer os braços e o abdomen.
Não era muita coisa. Na realidade não era nada. Era só um minuto da minha resistência e persistência.
Um minuto todo dia já me traria o resultado que eu queria.
Portanto, esteja ciente de que você enfrenta o tempo todo, tradeoffs.
Tradeoffs entre ficar estressada ou não dar tanta importância.
Tradeoffs entre entrar em uma briga ou ficar em silêncio.
Tradeoffs entre machucar alguém ou apenas se afastar.
E assim poderíamos dar um milhão, um bilhão, um trilhão de exemplos.
Então, esteja consciente do que você quer e do preço que você está disposto a pagar. E tome suas decisões sabendo disso.
Porque quando reconhecemos os tradeoffs das nossas vidas, nós conseguimos compreender com mais clareza as opções que estão disponíveis, e assim podemos fazer escolhas que nos levem a alcançar uma versão melhor de nós mesmos.
TEMPO DE MEDITAR | Daiana Oliveira